Munição

Queimam na carvoeira vestígios de heresia
falemos de amor
falou do sol, é poesia

Queima no chão os vestígios da luta
e o sangue deixado não se poe em museu.
Queima o rastro de sangue do caminho.
A guerra se torna deliciosa para quem a batalha perdeu.

Flores russas e tanques de serpentinas
granadas de céu de Réveillon
bombas caseiras de serotonina
espadas e estouros de Frisson.

Diga não ao regime militar de guerra.
Diga não ao que incomoda a terra.
E ao fascismo dos ricos. Ao fascismo dos pobres.
Diga não às causas dos nobres.

Diga sim às armas modernas.
Diga sim à guerra de paz.
Como guerras munidas de letras.
Como letras que não escrevo mais.

Primavera Carioca

Está chegando o Sol.
E ao teu nascer, nascerão motivos para brilhar.

De hora em hora, criaremos uma era.
De flor em flor, criaremos primavera.
De sim em não, uma nova verdade
De rua em rua, freixaremos a cidade.

Não me venha com choque de ordem! Pois com tua ordem, não tem progresso.
Não toque na minha harmonia.
Não erga o teu decreto.
Não mexa na minha barraca, pois tua sujeira é a minha luta.
Eu vou te entristecer
Mas ser livre, não é ser puta.

Somos todos autódromo
Somos todos rebelião
Estamos sendo removidos
Para os que vêm do Galeão

Não me venha fazer espetáculo, pois teu teatro não é cultura.
Não venha derrubar minha casa e depois me bater por dormir na rua.
Não privatize o meu sangue, não me troque por Paris.
Não me venda por quinze réis e não pense que estou feliz.

E hoje eu decreto: Revolucionarei.
Minha bandeira está erguida, como as flores que plantei.
Como os jovens que vi crescer e os filhos que eduquei.
Que meus santos abençoem
O coração desta terra.
Meu nome é Rio de Janeiro
E está é a minha primavera.

Eletrocardiograma

A vida é como um Eletrocardiograma: com altos, planos e baixos.

Existem aqueles momentos de êxtase, momentos simples ou complexos que te dão orgulhos, hormônios, lembranças e sorrisos. Como quando você consegue o amor da sua vida ou simplesmente quando você arremessa um aviãozinho de papel e ele voa longe…

Existem os momentos de plenitude. Planícies. De tédio ou simplesmente de paz. Momentos que passam despercebidos se mal aproveitados. Momentos que são lembrados por pequenos feitos, ou apenas momentos para serem somados a outros momentos.

E existem os momentos tristes. Onde os teus sentimentos se apresentam mais. Momentos tristes que são estudados a milênios, tratados como doenças que precisam de medicamentos. Aquele sentimento tão humano quanto carnal. Tão fiel quanto animal. Aquela dor que permanece, aquele trauma que te impede. – Aquele medo que te guia –

Mas enquanto continuas alcançando emoções e enquanto continuas se debulhando em lágrimas, assim como no eletrocardiograma, é sinal de que o seu coração continua batendo.
E você continua vivo.

A máquina da vida

antes existia uma máquina
que roubava a vida do chão
mas que dava a vida pro mundo
e devolvia sua vida ao chão

tinha uma jovem guerreira
que protegia a máquina com fé
alimentava a máquina com gás
e deixava a máquina em pé

chegou então o engenheiro
e tirou a máquina do chão
vendeu as peças da máquina
e roubou da máquina, o chão

então a jovem guerreira
que abraçou a máquina em vão
foi morta pelo engenheiro
e devolveu sua vida ao chão

e hoje esse engenheiro
vende aquilo que a chão forneceu
se esquece da jovem guerreira.
e dorme.
em paz.
não foi ele quem morreu.

Rosas são rosas, Violetas são…

Humanos são cinzas e pobres.
Carnívoros, fracos e nus.
O bebê que sairá nas fotos.
Será sempre o de olhos azuis.

A terra é Somália e Islândia.
São tomates cozidos ou crus.
Se o homem for crucificado.
Venderão sua pele e a cruz.

Prisioneiros e malacabados.
Coleirados que comem ração.
Se vendessem a carne do homem.
Estaríamos em promoção.

Limites

Compor eu não sei
Mas eu sei sentir
Em você busco inspiração
Palavras pra decidir
O quão grande é o meu sentimento
E o quanto posso escrever
Pode parecer clichê
Mas é tudo que eu posso fazer
Pra te agradar e se eu puder
Te ajudar a sorrir.
Pra te agarrar quando tiver
Pra onde possamos partir.

Escrito por João Vitor e editado por Lucas Santaanna.

Imaturidade

O despertar de um novo amor, é o re-despertar de um velho amigo.
Você não ama de duas formas diferentes – ou você ama, ou você não ama – quando isso se torna diferente e não volta, é porque o seu coração já amadureceu. Ou seja, já cresceu o que tinha que crescer (Agora só falta apodrecer).
Eu sou a favor do amor imaturo, sem capitais, sem máscaras e sem roupa. Sou a favor do amor emotivo, sem terras e sem tempo.
Eu sou a favor do amor infantil, da sensação boa de quando o nosso aviãozinho de papel voa bem longe. Daquele arrepio que congela e daquela dor que – quase – mata.
Sou a favor de viver na borda, no risco, no seu coração.

Zé Brasil

Zé Brasil já viu a guerra pela televisão
E se abrisse a porta, ele estava no meio
Já entrou na padaria, com medo de raspão
Zé Brasil conhece a arma pelo som do tiroteio

Já teve que rezar pro juízo final
Para não morrer, aprendeu a ter calma
Zé Brasil já foi julgado como um marginal
O caveirão já subiu, pedindo sua alma

Todo dia é tratado como um CPF
Zé Brasil não compra a paz
Com um contra-cheque
É só mais um rapaz.
Que não reclama e faz.
Pro Zé Brasil não mudou nada
O país no G7

Seu filho chega em casa.
– Filho vai brincar.
Seu pai não teve chance
De fazer no seu lugar.
Trabalha desde os 12.
Casou por amor.
Estudou até a quarta.
Nunca foi ao redentor.

Zé Brasil está moldando o seu caixão.
Sem aposentadoria, na guerra, e sem divã.
Zé Brasil vai torcer para a seleção.
Enquanto a paz relativa é só no Maracanã.

Zé Brasil vê a marcha da maconha.
Tem opinião formada sobre aborto.
Não quer saber sobre o final da novela.
Zé Brasil só não quer ver seu filho morto.

Recado à um coração que tem asas e se esqueceu.

Se jogue nesse abismo.
Porque abismo lembra imensidão.
Imensidão lembra Infinito
Infinito lembra o amor
Que só se jogou por acreditar na eternidade.

Vidro

Você reclama de quando eu reclamo?
E da minha forma de protestar?
Quanto mais eu estufo meu peito
Você empina o nariz
E não me deixa falar;

Você reclama?
Da musica alta que pertuba, por que?
Se foi você quem tentou me calar.
A sua música, é canção, poesia
A minha é heresia, e é errado pecar.

Você com discurso hipócrita
Que não condena classe social
Mas a criança te pede um sorriso
Você abaixa o vidro e atravessa o sinal

Qual é a cor da sua pele, é Jesus?
Qual é a sua ideologia, é a cruz?
De que é feito seu concreto, de prata?
É quanto a sua mamata?
Ainda quer protestar?